Dr. Hugo R. Benalia - Cardiologista
VOCÊ TEM MEDO DE INFARTAR?

É muito comum ouvirmos que fulano ou ciclano infartou e até teve um quadro “fulminante” que lhe tomou a vida. Não é à toa que isso gera um sentimento de medo e até de ansiedade: será que também estou vulnerável e posso ter um infarto a qualquer momento?
O que é o infarto?
A primeira informação que devemos ter em mente é o que de fato é o infarto. Palavra que na maioria das vezes quer se referir ao “infarto agudo do miocárdio”, infarto per se significa a morte celular pela falta de sangue, e por consequência, falta de nutrientes e oxigênio para as células, levando à sua morte. Dessa forma, quando há por algum motivo, uma cessação súbita do fluxo sanguíneo para certa região do músculo sanguíneo, em alguns minutos esse tecido pode morrer e evoluir para uma área cicatricial o que, a depender do tamanho e da sua localização, pode prejudicar a força de contração do coração, consequentemente prejudicando a sua função.
Por que acontece o infarto?
Qualquer situação que interrompa o fluxo sanguíneo para uma certa região do coração pode levar à morte dessas células, ou seja, um infarto. Nesse caso, a grande vilã, é uma doença chamada de aterosclerose.
É intuitivo pensar que nosso organismo deve viver em equilíbrio para seu bom funcionamento. Pois bem, algumas doenças como hipertensão arterial e diabetes, além de substâncias tóxicas tais quais aquelas contidas no cigarro, acabam levando à desordem e agressão das células que ficam em íntimo contato entre os vasos sanguíneos e o sangue: as chamadas células endoteliais. Uma vez lesadas, elas permitem que moléculas de colesterol (LDL) permeiem o vaso e ali se alojem. Frente a tal “invasão”, como mecanismo de defesa, é desencadeado uma resposta inflamatória e uma verdadeira “guerra” é travada nessa região, fazendo com que gradativamente surjam verdadeiras placas povoadas de colesterol, células inflamatórias e até células mortas: as chamadas placas de aterosclerose. Por diversos fatores, incluindo a falta de controle das doenças que já citamos, uma dessas placas podem se romper e gerar um coágulo que obstrui todo o vaso, impedindo de forma súbita que o sangue caminhe em direção às células, provocando a falta de oxigênio e nutrientes, culminando com a morte celular: infarto agudo do miocárdio.
Não podemos também esquecer que a aterosclerose é uma doença difusa e as “tais placas” podem se alojar em todas as artérias de médio e grande calibre, causando consequências danosas. Em território encefálico, pode causar infarto cerebral (AVC). Em território renal, pode causar redução do fluxo sanguíneo para o rim, prejudicando a função renal e sendo inclusive uma causa de hipertensão resistente e até de doença renal crônica!
O infarto é perigoso mesmo?
Se olharmos para os números que a diretriz mais recente de infarto do miocárdio da Sociedade Europeia de Cardiologia nos traz (ESC – 2023), cerca de 2,2 milhões de mulheres e 1,9 milhões de homens morreram na União Europeia no último ano de infarto. Atualmente, a morte de doenças cardiovasculares ocupa o topo do ranking de mortalidade mundial e o infarto agudo do miocárdio corresponde a 40% desse grupo de causa mortis.
Se você tem medo de infartar, você não é pessimista, mas no mínimo prudente. No entanto, precisamos também pensar que se trata de uma causa evitável de morte.
Assim como todas as doenças que permeiam os conhecimentos atuais da medicina, é impossível dizermos que uma doença é 100% evitável. Não é diferente quando se trata de doenças cardiovasculares. No entanto, precisamos ter em mente que é possível sim reduzir de forma significativa o risco de ser acometido por essa mazela.
Perceba que, quanto maior for a quantidade (e o descontrole) dos fatores de risco para aterosclerose, maior é o risco de uma pessoa infartar. Isso nos traz a consciência de que se conseguirmos evitar e/ou controlar doenças como hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia (alterações do colesterol) e erradicar o tabagismo, teremos uma boa chance de escapar dessa doença fatal.
O que fazer para evitar o infarto?
É de conhecimento milenar que práticas saudáveis prolongam a vida das pessoas. Mas o que isso tem a ver com o infarto?
Atividade física regular e alimentação baixa em gorduras, frituras e açucares, são atitudes que constituem um denominador comum para controle dos principais fatores de risco cardiovasculares, como hipertensão, diabetes e dislipidemia. Além disso, a erradicação do tabagismo já se provou ser uma medida eficaz para redução de eventos cardiovasculares. Se diminuirmos a agressão ao endotélio e reduzirmos o substrato da formação das placas ateroscleróticas (principalmente o colesterol LDL), estaremos ao menos evitando a progressão da aterosclerose e reduzindo a possibilidade de eventuais placas já formadas de se romperem.
Há de se notar que uma série de medicações utilizadas para controle desses fatores, inclusive em situações de doença aterosclerótica já estabelecida, foram comprovadamente responsáveis pela redução da ocorrência de infarto e inclusive da redução de morte cardiovascular.
Como saber se estou no caminho certo?
Quando se trata de doença, você nunca está sozinho. O seu médico cardiologista tem o papel de diagnosticar, tratar e acompanhar os fatores de risco e doenças que possam estar presentes e adotar medidas, sejam elas comportamentais ou medicamentosas, que comprovadamente possam reduzir o seu risco de infartar.
Por fim, também é importante dizer que você deve ser pessoa ativa na sua saúde. A adoção de hábitos saudáveis nem sempre é fácil, bem como assumir a necessidade de uso de medicações contínuas. Costumamos pensar no ônus de criar rotinas novas e de dar asas para o medo de possíveis (raros) efeitos colaterais, mas não pensamos no ônus de arcar com as consequências de doenças que podem reduzir nossa expectativa de vida, causar uma piora significativa da nossa qualidade diária e principalmente, esvair progressivamente (ou até subitamente) aquilo que mais nos importa: nossa saúde.
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